18.12.11


Um expresso, por favor. 

Isso é uma prisão. A cabeça é uma prisão horrível se você for pensar. Por isso as pessoas não pensam.

Eu gosto de pensar, de saber, de entender as coisas ao meu redor. Isso é perigoso e, no entanto, viciante. Pode parecer estranho, mas esse é um vício bom. Ou não, como diria Caetano. 

Estive pensando, e concluo que o ser humano é parasita do mundo. Em termos de biosfera, uma praga. Nós nos reproduzimos demais, vivemos demais, estragamos as coisas ao nosso redor. Parece discurso de ativista mas não é.  A diferença germinal reside no fato de que estou pouco me fodendo pra essas coisas, sou egoísta, sou humano demais pra querer ser bicho. Mas ao mesmo tempo me irrito com as pessoas. Acho que a moral me irrita, ou melhor, a hipocrisia. Não custa ser honesto. Assumir que só queremos viver da melhor maneira que conseguirmos, e à custa de outras pessoas. 

É triste porque a bondade hipócrita das outras pessoas faz com que eu pareça maldoso, embora verdadeiro. Desculpem-me a negligência na escolha do termo verdadeiro, esse termo relativiza muito.
Chega um momento da vida em é preciso fazer escolhas, e seu caminho quase sempre vai afunilar até um ponto em que não há mais o que fazer. É triste descobrir que sua jornada será construída sobre mentiras, trapaças, falsidade. Ter de se tornar o que você mais abomina, uma pessoa de aparências. 

Já tem um tempo que ando quebrado por dentro, e a ferida não cura. Descrença no mundo, nas pessoas, em mim próprio. Me disseram que estou com ideias muito pessimistas pra alguém com 25 anos apenas e –  os sofrimentos do jovem Werther eram tão lindos, os meus são tão mais negros e irremediáveis – que deveria seguir em frente pois ainda é só o começo. 

Isso é só o começo? Vai piorar então.

21.2.11

Rasantes do Intelecto



Entre ter de ser culto
Tens de ser belo
E tendes ao complexo

Parece-me um insulto
Desceres do castelo
No apogeu do sexo

Alimenta-te de mentiras
Desconheça a ti
Desfila frases feitas

O futuro a que aspiras
É o eterno presente
E não há pessoas feias

Mas se a tábua é rasa
A dúvida ampla
O saber ambíguo

Cristaliza a casca
Capricha na forma
Tem 140 caráteres

Destarte, faz poesia
Ama e faz filosofia
Quando no espelho
Ria.




18.2.11

Museu

Seu medo era de fechar os olhos. O escuro, tal como o pano das cortinas de um teatro se abria para as visões que ele queria a todo custo evitar. Eram fragmentos bons de seu passado. Imagens que lhe angustiavam o presente de tal modo, que ele sentia que a permanência do pensamento em tais cenas as transformaria em um gatilho para a melancolia. Portanto as evitava.
Mas o que fazer com esse buraco que agora restara sem precedentes ? Pensava. Passeando pela sua nova rotina percebia quão efêmeras eram suas relações e se espantava como eram rasas as pessoas ao seu redor.
É culpa do vazio,
O vazio me faz procurar pessoas que eu não quero encontrar,
As conhecer e a me decepcionar,
Ser obrigado a retomar as cenas,
E as cenas, elas...
São perigosas.
O problema não era solidão, o problema é que ele vivia de certezas, desmotivado por suas certezas. Esta crença que tinha em sua capacidade de prever os fatos lhe permitia sofrer com antecedência.
Afinal,
Cessa nunca o sofrer.

9.2.11

Bebo para tornar as outras pessoas interessantes

Quem nunca tomou um porre? Se não o fez, deveria. Sou eu próprio testemunha e partidário, devoto defensor dos benefícios da inconsciência auto dosada. As maiores besteiras que eu já fiz tem por coadjuvante o álcool, se bem que há quem diga que o coadjuvante era eu. Pode ser ainda que essas desinteligências sejam fruto da união entre o álcool e meu organismo em uma simbiose etílica, e que, juntos completamos a figura de um grandioso inconsequente. Mas quem não gostaria de não mesurar consquências? De agir pelo próprio e único interesse? De transgredir e não ser punido?

O maior poder que o homem pode exercer sobre sua vida sempre foi o de errar sem ser punido. Errar no sentido de contrariar as regras impostas pela sociedade em prol de seus próprios interesses. Desde que o mundo é mundo, pessoas tentam (com sucesso) controlar outras pessoas, e criam com isso mecanismos de domínio audazes como as leis, de sutil perspicácia como a religião, de elevado intelecto como a moral.

Notem como é difícil retomar esse prazer primitivo de sobrepor-se aos demais com tantos instrumentos de controle social engendrados no que chamamos de consciência. Para que um transgressor, por assim dizer, obtenha êxito em sua tarefa de gozar do prazer da impunidade ele deve se livrar do temor que tem pelas leis, do temor de ser preso ou ser espoliado, despojado de seus bens; deve superar a idéia de pecado, ou pelo menos crer no poder conceitual do perdão; e deve driblar ainda toda uma determinação moral para que os conceitos de certo e errado lhe favoreçam.

Sendo assim, fazer merda de maneira consciente demanda um elevado grau de sociopatia, que, por sorte, não se perfaz na maioria da população. Por isso a bebida. A mágica que a embriaguez provoca é alterar estado de consciência, você pode ser um cidadão regular, ético, honesto, religioso e moralista até, e gozar da impunidade alegando que não teve consciência de seus atos. É Brilhante.