Um expresso, por favor.
Isso é uma prisão. A cabeça é uma
prisão horrível se você for pensar. Por isso as pessoas não pensam.
Eu gosto de pensar, de saber, de
entender as coisas ao meu redor. Isso é perigoso e, no entanto, viciante. Pode
parecer estranho, mas esse é um vício bom. Ou não, como diria Caetano.
Estive pensando, e concluo que o
ser humano é parasita do mundo. Em termos de biosfera, uma praga. Nós nos
reproduzimos demais, vivemos demais, estragamos as coisas ao nosso redor.
Parece discurso de ativista mas não é. A
diferença germinal reside no fato de que estou pouco me fodendo pra essas
coisas, sou egoísta, sou humano demais pra querer ser bicho. Mas ao mesmo tempo
me irrito com as pessoas. Acho que a moral me irrita, ou melhor, a hipocrisia.
Não custa ser honesto. Assumir que só queremos viver da melhor maneira que
conseguirmos, e à custa de outras pessoas.
É triste porque a bondade
hipócrita das outras pessoas faz com que eu pareça maldoso, embora verdadeiro.
Desculpem-me a negligência na escolha do termo verdadeiro, esse termo
relativiza muito.
Chega um momento da vida em é
preciso fazer escolhas, e seu caminho quase sempre vai afunilar até um ponto em
que não há mais o que fazer. É triste descobrir que sua jornada será construída
sobre mentiras, trapaças, falsidade. Ter de se tornar o que você mais abomina,
uma pessoa de aparências.
Já tem um tempo que ando quebrado
por dentro, e a ferida não cura. Descrença no mundo, nas pessoas, em mim
próprio. Me disseram que estou com ideias muito pessimistas pra alguém com 25
anos apenas e – os sofrimentos do jovem
Werther eram tão lindos, os meus são tão mais negros e irremediáveis – que
deveria seguir em frente pois ainda é só o começo.
Isso é só o começo? Vai piorar
então.