24.10.10

Eleições

Segundo o calendário eleitoral 2010 divulgado pelo TSE, julho - ter, 06/07/2010 é a data a partir da qual é permitida a propaganda eleitoral . Dessa data até outubro - dom, 03/10/2010, o dia das eleições, contam dois meses e 27 dias.
Nesses quase três meses, surge no país uma série de pessoas embebidas de certo espírito democrático intrigante. Não as culpo, é uma época em que de fato a população tem importância para a política, sendo assim, sobra bajulação por toda a mídia quanto à importância do voto. As pessoas, sentindo-se importantes e responsáveis pelo seu futuro, crentes em que decidirão o pleito a que se lhes apresenta, tomam a atitude de se deixarem convencer. Degustam do jantar, sentam-se em frente a seus televisores, e dão início à prática da cidadania.
O futebol nos ensina as regras da vida. Tal como a escolhas dos clubes no esporte, a maioria das escolhas de candidatos se mostram irracionais, filiadas à tradição familiar, ou subsidiadas por vantagens particulares. Fato é que em três meses não se forma um cientista político, não se forma um sociólogo, não se forma um economista, tão pouco um jornalista (mesmo que este nem precise). Em três meses, só duas coisas se formam: Uma opinião sólida, e um político.
O alvo da minha crítica se dirige a esses que formam suas opiniões sólidas sob a influência desse sentimento ufano-democrático. Esse sentimento é habilmente criado para manipular a opinião pública. Às vezes nem é tão habilmente manuseado como foi o caso da descriminalização do aborto introduzido na pauta do segundo turno, ocasião em que ambos os candidatos foram infelizes, uma por apoiar e desdizer, o outro com sua esposa envolvida no meio de denúncias anti-natalinas. O aborto é menos preocupante que a pobreza e a má distribuição de renda, no entanto, possui um alto potencial polêmico ao passo que conjura a nação a ratificar sua hipocrisia. Vê-se que não há sequer a preocupação em disfarçar a guerra entre imagens. E que vença o melhor formador de opinião.
O fato de sermos consultados apenas uma vez a cada quatro anos não parece incomodar os democráticos cidadãos atuantes na política através de seus representantes. A democracia representativa é uma invenção moderna, e sua base teórica deve muito à independência dos estados Unidos. Deve-se mais precisamente à Convenção de Filadélfia, em que, entre maio e setembro de 1787, elaborou-se uma nova constituição para este país, e aos artigos publicados em Nova Yorque no ano seguinte, sobre a alcunha de O Federalista, que visavam convencer os estados a ratificarem a nova constituição proposta.
O que se diz nestes textos de O Federalista a favor do modelo republicano, é que o mesmo seria perfeitamente adequado às sociedades comercias pela ação de dois fatores: a república representativa, e o aumento da área e do número de cidadão sob a jurisdição de um único estado. A representação seria responsável pelo filtro, delegando a um número menor de pessoas as funções de governo, e para evitar que uma facção (interesse) formasse maioria e viesse a defender seus interesses pessoais, seria necessário que houvesse várias facções com interesses distintos no poder, para que, se não havendo o acordo entre elas, surgisse o não-governo, travando o estado. Teoricamente o não-governo obrigaria que as partes dialogassem e optassem pelo interesse geral como única opção.
O grande desvirtuamento nas eleições de hoje é que os partidos tem se tornado cada vez mais pragmáticos, centralizando seus programas para atingirem uma parcela majoritária da população, com o intuito de se perpetuarem no poder. Atrelados a essa tendência, surgem os político profissionais, que não representam uma facção ou um segmento da nação, e sim o interesse econômico da nação. O quadro pintado é prejudicial ao mecanismo, pois as poucas pessoas que atingem o poder representam a elas próprias e navegam ao sabor dos ventos mais brandos, aportados onde o dinheiro melhor lhes aprouve.
Com isso em mente, e um pouco mais, registro minha indignação perante àqueles que tomam pra si a ideologia de um partido ou de um candidato, pois se trata de abraçar o vazio, ou golpear um espelho.

26.8.10

Que te congela?

Conforme os dias iam passando, ele ia construindo uma nova identidade. Era metamórfico - culpa do determinismo - sua opinião sempre mudou muito conforme o ambiente lhe atribuía novas perspectivas de vida, era adaptável, maleável, volúvel, e, por vezes, de tão humano, inconsistente. Não se pode dizer, porém, que tais atributos lhe conferiam um demérito de caráter. É sabido o tamanho uso que um caráter faz de tais desníveis de conduta, são sua matéria prima!
- Nossa, como ele é sério né!? Diziam, e ele ria internamente, há muito aprendera aguardar pra si sua vilania, seu veneno, o destilava na vida privada.
Mas que vida privada?
Todo o contato humano que estabelecia se baseava no abrandamento de sua personalidade. Os bebês eram sempre lindos e fofinhos, os tortos eram respeitados com solenidade imprudente, as piadas prontas eram desperdiçadas sem auditório, a moral, inabalável.
Mas tudo isso gerava uma profunda inquietação no fundo de sua alma: se na maior parte do tempo ele não era mau, e na verdade só seus pensamentos eram maléficos, e não suas ações, não estaria ele em franca crise de identidade? Não seria ele bom, enquanto fantasiava que suas atitudes louváveis seriam um disfarce? Há como disfarçar 24 horas por dia? E se sua acidez fosse uma armadura protegendo sua natureza simples? Bondoso de coração? O gelo viria de dentro pra fora ou de fora pra dentro?

19.8.10

A Ninfa

Jovial, uma menina saltita pelos canteiros com seu vestido manchado. Seu marido a espera. Ela ainda é nova pra essas coisas de marido, e ainda nem o conhece, mas ele a espera. Sete anos de espera no alto de um penhasco.
Ela vem no rastro de uma borboleta, negra a borboleta. No penhasco há uma trilha estreita pela qual se atinge o topo, e no topo é onde mora o inseto. Ela não a viu como inseto, tomou-lha por amiga e foi em seu enlace. Era o incesto de seu marido o inseto. A ninfa morre e vive de novo, morte e vida são irmãs apaixonadas. E a menina galga o topo, estica o braço no vazio pra alcançar a borboleta. Seu marido a espera. O vôo é sinuoso e espiralado, em um impulso ela quase alcança as asas. Sete anos de espera. E o vento ventou, empurrou o corpo da menina junto ao da borboleta ela de súbito a agarra, esmaga-lhe o exoesqueleto e suas entranhas escorrem pelo vãos de seus dedos fofinhos e pequeninos de meninota. Ao marido só o petisco, ao vestido, outra mancha.

4.8.10

Memórias de Um Sargento de Milícias

"... as Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, estão isentas de qualquer traço idealizante e procuram despregar-se da matéria romanceada graças ao método objetivo de composição, próximo do que seria uma crônica histórica cujo autor se divertisse em resenhar as andanças e os pecadilhos do uomo qualunque.

Em Macedo a veracidade dos costumes fluminenses aparece distorcida pela cumplicidade tácita com a leitora que quer ora rir, ora chorar, de onde resulta um realismo de segunda mão, não raro rasteiro e lamuriento. Em Manuel Antônio, o compromisso é mais alto e legítimo, porque se faz entre o relato de um momento histórico (o Rio sob D. João VI) e uma visão desenganada da existência, fonte do humor difuso no seu único romance.

Dizia um velho professor de literatura espanhola: "El Problema del pícaro es un problema de hambre". E o romance picaresco, de origem espanhola, desde o Lazarillo de Tormes (1554) à Vida de Guzmán de Alfarache de Mateo de Alemán (1604) e ao Búscon de Quevedo (1626), assentava-se inteiramente nas aventuras de um pobre que via com desencanto e malícia, isto é, de baixo, as mazelas de uma sociedade em decadência. Mundo em que a brutalidade e a astúcia traziam as máscaras da coragem e da honra. O pobre, no seu afã de sobreviver, transformava-se em pícaro, servido ora a um ora a outro senhor e provando com o sal da necessidade a comida do poderoso. Ao pícaro é dado espiar o avesso das instituições e dos homens: o seu aparente cinismo não é mais que defesa entre vilões encascados. Mas cada contexto terá seu modo de apresentar o pícaro, As aventuras de Gusmán na Espanha barroca não se repetirão no Diabo Coxo e no Gil Blas do saboroso Lesage que, apesar das fontes castelhanas, é bem francês e leitor de La Bruyère, pelo cuidado com que pinta o retrato moral dos figurantes. Figurantes e não personagens movem-se no romance picaresco do nosso Manuel Antônio que, ao descartar-se dos sestros da psicologia romântica (em 1853, aos vinte e um anos de idade!), enveredou pela crônica de costumes onde não há lugar para a modelagem sentimental ou heróica ("O homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo"), nem para o abuso da peripécia inverossímil.

Desde a primeira linha, o leitor sente o interesse em tudo datar e localizar com precisão:

Era no tempo do Rei

Uma das quatro esquinas que formam as Ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se naquele tempo "O canto dos meirinhos". ".

"A mesma atenção é dada aos homens e mulheres que vão e vem pelos becos do velho Rio, e dos quais o observador nota ora o ofício (“ fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria"), ora os caracteres físicos: "Maria da Hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona...";” um colega de Leonardo, miudinho, pequenino, e com fumaças de gaiato e o sacristão da Sé, sujeito alto, magro e com pretensões de elegante “...

Mas o realismo de Manuel Antonio de Almeida não se esgota nas linhas meio caricaturais com que define uma variada galeria de tipos populares. O seu valor reside principalmente em ter captado, pelo fluxo narrativo, uma das marcas da vida na pobreza, que é a perpétua sujeição à necessidade, sentida de modo fatalista como o destino de cada um. Esse contínuo esforço de driblar o acaso das condições adversas e a avidez de gozar os intervalos de boa sorte impelem os figurantes das Memórias, e, em primeiro lugar, o anti-herói Leonardo, "filho de uma pisadela e de um beliscão" para a roda viva de pequenos engodos e demandas de emprego, entremeadas com ciganagens e patuscadas que dão motivo ao romancista para fazer entrar em cena tipos e costumes do velho Rio.

É supérfluo encarecer o valor documental da obra. Acrítica sociológica já o fez com a devida minúcia. As Memórias nos dão, na verdade, um corte sincrônico da vida familiar brasileira nos meios urbanos em uma fase em que já se esboçava uma estrutura não mais puramente colonial, mas ainda longe do quadro industrial-burguês. E, como o autor conviveu de fato com o povo, o espelhamento foi distorcido apenas pelo ângulo da comicidade. Que é de longa data, o viés pelo qual o artista vê o típico, e, sobretudo o típico popular."

História concisa da literatura brasileira / Alfredo Bosi - 43 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

25.6.10

De flor ar

desliza de uma vez, sinto
pertenço, pertenço, pertenço
nada de mais deixa ir onde for
desejo respirar ofegante ar

sente entre o ventre ente querido,
sede par sem culpar adquirido
quem menos peca
menos será punido

não há pra que procurar
nada de pior se tem por vir
treme sua frio enrijece
e lembra que limite não há.


11.4.10

Mário Quintana

Intermezzo

Nem tudo pode estar sumido
ou consumido…
Deve – forçosamente – a qualquer instante
formar-se, pobre amigo, uma bolha de tempo nessa Eternidade…

e onde
- o mesmo barman no mesmo balcão,
por trás a esplêndida biblioteca de garrafas,
fonte de nossa colorida erudição –
haveremos de continuar aquela nossa velha discussão
sobre tudo e nada
até
que, fartos de tudo e nada,
desta e da outra vida,
a rir como uns perdidos,
a chorar como uns danados,
beberemos os dois nos crânios um do outro…
até o teto desabar!

(Perdão! até a bolha rebentar…)


Mário Quintana


Intermezzo

s.m. (pal. ital.) Breve espetáculo entre dois atos de um drama ou de uma ópera. / Pequeno trecho que separa as partes principais de uma composição musical.



7.4.10

Mr. Brightside

Trata-se de uma ode, de uma homenagem ao nosso otimismo de cada dia.
Certa vez me chamaram de Mr. Brightside, e hoje penso como seria se não houvesse esse otimismo implícito no meu Pelo Menos de cada dia.
Sim meus caros, tudo o que vejo de ruim nesse mundo, de azar nesta vida, para mim seria impossível sobreviver sem algo que, Pelo Menos, me colocasse um outro lado da situação mais fácil de aturar, que fosse um fardo mais leve pra carregar.
Penso em política, como pode um trampolim de vidas ser assim tão descoberto, tão na cara, despudorado ? Será que somos idiotas assim?
O otimismo é um vírus nacional, que nos faz aceitar coisas podres, contanto que Pelo Menos o IPI continue reduzido.
Dica para eleições 2010, você não tem saída, campanhas milionárias formarão sua opinião para que você encare os problemas do país com otimismo, e não se dê conta que o problema do país é o otimismo, portanto, entregue-se.
Eu me entreguei à filosofia do Pelo Menos, e digo que está tudo uma merda, não adianta falar que não, mas, Pelo Menos, Deus nos deu de presente a Lógica, para que pudéssemos concatenar saídas plausíveis para continuar vivendo à margem do sofrimento.
Deus não dá a mínima pra Lógica, se desse, a usava.
Nós não damos a mínima pra nada, e graças à Lógica.
LOGO, quem liga para as coisas, mesmo que elas não sejam lógicas, é um deus.
Por fim, no ocidente monoteísta há apenas uma pessoa que não precisa ser otimista, mas ninguém o viu.

29.3.10

Por onde andará Mauro Iasi ?



Esse foi meu professor de Ciência Política e Teoria Geral do Estado, muito bom professor.

Nós alunos de 2008 da FDSBC, fomos, até agora, os últimos paulistas a cursar esta disciplina, e o nosso privilégio foi aprender do Capitalismo e Marxismo e da Política com um legítimo marxista, não como alguém que apenas conhece o discusro, mas com alguém que discursa.
Isso dificultou bastante as nossas discussões de bar.

18.1.10

Venda

E o tempo flui

Flutua

Tudo vem dado

Contínuo presente passado

Vivo vendado

Inerte, suspenso

Calado

Insatisfeito com tudo

Contudo,

Todo vendado

Fundamenta o imaginário

Vive de planos

ambíguos

Fracassados

Em segundos o plano

B

Vira pano de fundo

É preciso arruinar tudo

Ou apertar o nó da venda

Apertar o nó da venda da alma

12.1.10

O Natimorto

Esse é um vídeo, uma promoção do filme, o ator é o escritor.
Eu recomendo a leitura de Lourenço, e os filmes que saem de seus livros são sempre bons,
pro meu gosto.

3.1.10

Era Uma Vez Dois - Contatos de Terceiro Grau


- Você faz direito?

Ela perguntou, me conhecia de vista, ou de ouvir falar talvez.

- Faço.

Respondi com a piada pronta na cabeça mas resolvi guardá-la pra mim.

- Ai como você agüenta?

- Ah eu gosto, direito é muito loco.

Minto de primeira mas dá trabalho explicar minha relação com esse curso, meu desgosto é de gostar.

- Eu fiz no começo do ano, mas não agüentei e saí.

- Ah é por quê? Dissimulo.

- Acho que foi o povo do direito, aquela espécie.

A espécie da qual ela se referia eu conheço bem, o pessoal do mundo jurídico, veja que como se fossem de outro mundo eles se consideram outra espécie.

Espécies jurígenas,

Jurienígenas.

Uns putos arrogantes de pouco senso crítico, eu faço parte, posso falar mal.