26.8.10

Que te congela?

Conforme os dias iam passando, ele ia construindo uma nova identidade. Era metamórfico - culpa do determinismo - sua opinião sempre mudou muito conforme o ambiente lhe atribuía novas perspectivas de vida, era adaptável, maleável, volúvel, e, por vezes, de tão humano, inconsistente. Não se pode dizer, porém, que tais atributos lhe conferiam um demérito de caráter. É sabido o tamanho uso que um caráter faz de tais desníveis de conduta, são sua matéria prima!
- Nossa, como ele é sério né!? Diziam, e ele ria internamente, há muito aprendera aguardar pra si sua vilania, seu veneno, o destilava na vida privada.
Mas que vida privada?
Todo o contato humano que estabelecia se baseava no abrandamento de sua personalidade. Os bebês eram sempre lindos e fofinhos, os tortos eram respeitados com solenidade imprudente, as piadas prontas eram desperdiçadas sem auditório, a moral, inabalável.
Mas tudo isso gerava uma profunda inquietação no fundo de sua alma: se na maior parte do tempo ele não era mau, e na verdade só seus pensamentos eram maléficos, e não suas ações, não estaria ele em franca crise de identidade? Não seria ele bom, enquanto fantasiava que suas atitudes louváveis seriam um disfarce? Há como disfarçar 24 horas por dia? E se sua acidez fosse uma armadura protegendo sua natureza simples? Bondoso de coração? O gelo viria de dentro pra fora ou de fora pra dentro?

Um comentário:

decio h disse...

Ou seria um psicopata latente?

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