26.10.09

Mais Animus Animais

Sexta-feira passada fui doar sangue, sim meus caros, a calhordagem está à solta por ai. No entanto, os hospitais são lugares que me deixam desconfortável, somos nós, a raça superior, em seus dias inglórios. Não bastasse o estupor que me dominava ao ser integrado à massa humana do transporte público, e partilhar da sina de um idoso de coluna em riste apoiado em seu manche manobrando e administrando os solavancos físicos (do trem), e mentais (da indiferença das “pessoas” aos assentos preferenciais), tive o ânimo recobrado pela possibilidade de assistir a uma aula na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a saber, da cátedra de Sociologia Jurídica, mais precisamente acerca do Cara: Karl Marx.

O assunto não era novo, mas de tudo que foi dito duas coisas me chamaram a atenção: A composição da Classe Improdutiva, e o Povo como Animal.

Comecemos pelo Povo (classe da qual não faço parte claro): nas sociedades modernas, o homem não é mais aquele ser que se realiza através de seu trabalho, pelo contrário cada vez mais o processo de produção industrial tende a alienar o homem do produto de seu trabalho desvinculando o mesmo do sentido de integração social como parte funcional importânte para o desenvolvimento pleno da sociedade. Com esse processo de não identificação, os trabalhadores tendem a canalizar seu tempo livre em prazeres primitivos como se alimentar, dormir e fazer sexo, o que lhe aproxima à vida de um animal, sem motivos pra ser diferente disso. Pois então, o homem quando obrigado a vender sua força de trabalho, considerada a única mercadoria capaz de produzir mais do que seu valor de custo (entende-se por valor a quantidade de trabalho aplicada à um determinado bem da vida), acaba por vender também sua racionalidade estreitando o limiar que o separa de sua condição animal.

Agora passemos à minha classe, a dos improdutivos: na lógica da estratificação social há aqueles que produzem os bens da vida necessários a nossa sobrevivência e a nossa satisfação material, são operários, agricultores, produtores em geral. Enfim, se são estes os que produzem, que são aqueles tantos outros como Médicos, Advogados e Professores por exemplo? Sim nós prestamos serviços mas não produzimos nada, somo improdutivos pois. (Deixo esse tema para uma análise posterior se vier a calhar).

No que tange a meu desencantamento do mundo, concluo que pra me despistar do trabalho dispus de um estratagema legal que me garante uma folga em troca do meu sangue (no sentido literal), e que nessa “nobre” desculpa pra evitar a alienante improdutividade que decorre da venda de minha força de trabalho animal, não pude me distanciar de meus instintos mais primitivos ao fazer um brinde à vida ao melhor estilo foda-se.

Boa semana.

17.10.09

No que vale a pena ser pensado?

Algo de obscuro paira no ar enquanto me defronto com a minha própria realidade acadêmica, que de certa forma é minha realidade quase que integral afinal meu mundo orbita em torno da graduação e da aquisição de conhecimento.

Tendo em vista o fato iniludível de ser este curso a que me dedico, o de Direito, daqueles que se aperfeiçoam com uma famigerada redação de conclusão, vejo que meu ar começa a rarear, e o sufoco de delimitar um tema me compele a elucidar inúmeras hipóteses de abordagem reflexiva. O que, no entanto, pode parecer exagero de um aluno afoito, confesso-lhes que não é, e digo, pois, tendo em vista o horizonte tênue que me separa da conclusão do segundo ano, que tenho compilado informações demasiado importantes na sublimação de meus pressupostos teóricos e minhas posições no debate social, filosófico, político e, sobretudo jurídico, fato que me tem posto em cheque nas seguintes questões: Depois de tudo, vale a pena prosseguir na ânsia do “saber”? Se sim, o que vale a pena ser pensado?

Confesso que é penoso, pois, quanto mais eu conheço, mais o nó se aperta em minhas mãos. Eu que nem havia me dado conta desse nó. A saída lógica para a primeira questão é indubitavelmente pragmática, e nem o poderia deixar de ser afinal a lógica da qual se trata não passa da boa e velha lógica instrumental com respeito a fins, que é pensar em como o “saber” me pode ser útil. Ando com um pensamento de certo modo vergonhoso e subvertido de usar o conhecimento teórico e técnico para manipular a realidade, mas isso não é prazeroso, pois quanto melhor eu for em transformar tudo em um jogo, tanto menor eu serei de mim mesmo no final. O grande problema é que a resposta poética do “saber pelo saber” já não é tão atraente quanto fora, uma vez que me mune de argumentos implosivos e autodestrutivos.

Sadicamente continuando, e tendo em vista as obrigações monográficas, digamos que a resposta pragmática seja minha peneira contra o sol e passemos à segunda questão, esta sim corrosiva. Um ponto é claro, dentro de uma faculdade de Direito urge que se pense em temas jurídicos, ao menos para uma graduação, para não correr o risco de recair em um círculo retórico sem fim de abstração intangível, quiçá ininteligível, ou mais uma vez, inútil e sem utilidade prática (sem pretensões científicas, claro). Porém, quanto mais o cerco se fecha, ao invés de facilitar, a minha vida só se complica, ora, se minha habilidade maior versa sobre as questões abstratas, filosóficas, políticas e sociais, como transpor o dilema? Em princípio a opção mais fácil é pescar no mar jurídico um tema qualquer e dobrar o verbo sem finalidade outra senão concluir o curso, claro que isso me frustraria imensamente, mas, de antemão considero essa como última opção. De mais a mais, lendo manuais de monografia jurídica, em deliberações com professores, amigos em situação semelhante, compartilhando aflições, pude chegar a um esqueleto esquemático que esse configura em: usar o arcabouço teórico como pano de fundo pra uma questão jurídica de relevância pessoal que me catapulte de vez pra pesquisa.

Mas que questão jurídica de relevância pessoal? Constitucional seria a escolha mais adequada às minhas outras aptidões, porém, ao final do segundo ano da matéria, sairia como entrei senão pela leitura da Carta e de um manual capenga. Estou aberto a sugestões.

4.10.09

De mosaico, nada

Barbudo mais lindo ever

Com o jeito mais interessante ever

Um ar displicente

Uma arrogância

Um charme

Um nao-sei-o-que de maroto

Um - tanto de coxa

Um olhar de 'estou num patamar acima de você'

Um olhar, por vezes, de maluco de pedra

Um cabelo enroladinho feito anjinho

Que não é

Um pique-pique de palavras que se montam muito bem

Umas frases soltas que se encaixariam em cenas diversas

Um pescoço dos mais macios

Juntamente seus olhos...

Esses, indescritíveis

Passam coisas demais

Que não podem ser soltas assim a todos

Às vezes capto algo

Mas de resto, são suposições

Assim como as mãos.

Supõe-se que suas mãos sejam suas

Mas tenho a leve impressão de que às vezes sejam minhas

Quando eu não mais as sinto

Ou então, se as sinto, prefiro que não sentisse

Pra que se escolher o duplo, se se pode ter o uno?

Enfim

Creio que me perdi em palavras demais

Mas é tudo assim

Um turbilhão de imagens e sons e gestos e sílabas

Que ainda me farão louca, por Deus!