17.10.09

No que vale a pena ser pensado?

Algo de obscuro paira no ar enquanto me defronto com a minha própria realidade acadêmica, que de certa forma é minha realidade quase que integral afinal meu mundo orbita em torno da graduação e da aquisição de conhecimento.

Tendo em vista o fato iniludível de ser este curso a que me dedico, o de Direito, daqueles que se aperfeiçoam com uma famigerada redação de conclusão, vejo que meu ar começa a rarear, e o sufoco de delimitar um tema me compele a elucidar inúmeras hipóteses de abordagem reflexiva. O que, no entanto, pode parecer exagero de um aluno afoito, confesso-lhes que não é, e digo, pois, tendo em vista o horizonte tênue que me separa da conclusão do segundo ano, que tenho compilado informações demasiado importantes na sublimação de meus pressupostos teóricos e minhas posições no debate social, filosófico, político e, sobretudo jurídico, fato que me tem posto em cheque nas seguintes questões: Depois de tudo, vale a pena prosseguir na ânsia do “saber”? Se sim, o que vale a pena ser pensado?

Confesso que é penoso, pois, quanto mais eu conheço, mais o nó se aperta em minhas mãos. Eu que nem havia me dado conta desse nó. A saída lógica para a primeira questão é indubitavelmente pragmática, e nem o poderia deixar de ser afinal a lógica da qual se trata não passa da boa e velha lógica instrumental com respeito a fins, que é pensar em como o “saber” me pode ser útil. Ando com um pensamento de certo modo vergonhoso e subvertido de usar o conhecimento teórico e técnico para manipular a realidade, mas isso não é prazeroso, pois quanto melhor eu for em transformar tudo em um jogo, tanto menor eu serei de mim mesmo no final. O grande problema é que a resposta poética do “saber pelo saber” já não é tão atraente quanto fora, uma vez que me mune de argumentos implosivos e autodestrutivos.

Sadicamente continuando, e tendo em vista as obrigações monográficas, digamos que a resposta pragmática seja minha peneira contra o sol e passemos à segunda questão, esta sim corrosiva. Um ponto é claro, dentro de uma faculdade de Direito urge que se pense em temas jurídicos, ao menos para uma graduação, para não correr o risco de recair em um círculo retórico sem fim de abstração intangível, quiçá ininteligível, ou mais uma vez, inútil e sem utilidade prática (sem pretensões científicas, claro). Porém, quanto mais o cerco se fecha, ao invés de facilitar, a minha vida só se complica, ora, se minha habilidade maior versa sobre as questões abstratas, filosóficas, políticas e sociais, como transpor o dilema? Em princípio a opção mais fácil é pescar no mar jurídico um tema qualquer e dobrar o verbo sem finalidade outra senão concluir o curso, claro que isso me frustraria imensamente, mas, de antemão considero essa como última opção. De mais a mais, lendo manuais de monografia jurídica, em deliberações com professores, amigos em situação semelhante, compartilhando aflições, pude chegar a um esqueleto esquemático que esse configura em: usar o arcabouço teórico como pano de fundo pra uma questão jurídica de relevância pessoal que me catapulte de vez pra pesquisa.

Mas que questão jurídica de relevância pessoal? Constitucional seria a escolha mais adequada às minhas outras aptidões, porém, ao final do segundo ano da matéria, sairia como entrei senão pela leitura da Carta e de um manual capenga. Estou aberto a sugestões.

18 comentários:

decio h disse...

Não adianta perguntar pro Bahia. Que tal ir com mais calma. Talvez um tema ache você.

decio h disse...

Além do que, filosofia jurídica também traz temas jurídicos. Se você for brilhante o suficiente, pode começar por aí a sua carreira teorética.

Anônimo disse...

"Tanto menor eu serei de mim mesmo no final"...
Antes de mais nada, lembro e quero lembrar que afirmei que não mais comentaria no blog dessa pessoa estúpida, mas... (rs) Revelo que continuo lendo os textos aqui publicados, principalmente porque estimo essa belíssima escrita.
Enfim, devo confessar que compartilho contigo dessa aflição, desse desespero sufocante, quase que insuportável, e, por isso, me sinto convidada a participar dessa conversa, com um toque de desabafo.
Desde o começo desse segundo ano do curso, tenho vivido profundas e insistentes crises "existenciais"... Uma verdadeira insatisfação... Quase que aversão! Talvez isso se dê porque sou (e enxergo essa mesma característica em você) avessa ao modelo, ao método. Seja lá o que for, chegamos juntos ao beco sem saída chamado monografia, momento em que somos compelidos a engolir a aflição e agir, de qualquer forma. Gostei da solução que você pretende dar ao seu caso... O direito constitucional (resta saber o quê exatamente do direito constitucional será desenvolvido), ao meu ver, se aproximaria, sem deixá-lo em situação demasiadamente incômoda, ao quê filosófico, político e social que te apraz. O primeiro passo, para não fugir da questão jurídica, é usar a filosofia, a sociologia ou a ciência política como lentes para enxergar o direito. A partir daí, acho que vai ficar mais tranqüilo pra você conseguir desenvolver seu tema, afinal, suas matérias preferidas estarão subrepujando o direito e isso, talvez, lhe traga até, quem sabe, satisfação.
Bom, talvez eu tenha apenas repetido tudo o que já tenha lhe ocorrido... Se lhe serve de consolo, e se aceita a companhia, estamos juntos nesse impasse! ;D
Boa sorte!!!

PS. Dessa vez, abri meu coração! (rs)

Anônimo disse...

Pra arrematar: "O saber me sufoca", Nietzsche.

leandro disse...

Pois sim Fernanda, bem vinda à bordo. Cabe a nós, Alienígenas Jurídicos, dominar essa besta, sobrepor a ela nosso coração, e saborear o prazer de vê-la fazer sentido. Só nos resta, como disse o Décio, deitar sobre esse dilema todo o nosso brilhantismo.

Péptideo disse...

pelo jeito, sou o unico da area de exatas por aqui, logo, o que deve demorar mais tempo que os demais para ler um texto que esbanja toda a riqueza do nosso vocabulario.
Eu sofro, concluo.

leandro disse...

Pelo menos você pode recorrer a um dicionário em último caso, se minha vida depender de fazer uma operação matemática eu tô fudido e mal pago.
Maldita matemática, um dia eu te pego.

Anônimo disse...

É da área de exatas, é? Isso quer dizer que, por incrível que possa parecer, você é o mais louco entre nós! HAHAHAHA! Que ótimo!!! Isso me parece bastante confortante: talvez signifique que nosso desvairamento ainda está dentro dos limites! rs
Se um número cruza o meu caminho, perco o chão.
Na próxima vida, nasço como o Décio: polivalente! ushauhUHSAHHushuahsuhas!

decio h disse...

Não é bem assim, caro Péptideo, não é tão único aqui. :)
Como diz a Fernanda, estou em várias áreas. Como diz o Kid Abelha: "sei de tudo um pouco e quase tudo mal".
Sou técnico eletrônico, exatas; sou arquiteto, exatas, artes, humanas (na USP é assim, há lugares em que Arquitetura é mais técnica) e cá estou no Direito, humanas total...
Ainda não me interessei em biológicas.

Anônimo disse...

AINDA! ;]
Ouviram?

decio h disse...

:)
eu falo ainda, porque se hoje eu não suporto química e biologia, antes eu não gostava de direito.

Anônimo disse...

Décio arrasa! ;)

leandro disse...

Qualquer idiota faria isso.

Luana Harumi disse...

Eu faria isso.

decio h disse...

é verdade.
vc faria medicina (e fará).

Luana Harumi disse...

:)
Pois sim!

Péptideo disse...

é, de fato, os numeros tem a tendencia de causarem mais ranger de dentes..mas a minha dificuldade com as palavras dificulta essa convesa, troca de ideias...ja a sua com numeros, nao te atrapalha tanto a conhecer pessoas e ideias...com humanas, nunca tive nenhum contato academico, digamos..ja biologicas, sempre gostei..faria algo da area, facilmente..
afinal,qualquer idiota faria isso(?)
asehsauisaoehiouesuoeha

leandro disse...

eu não faria.

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