Essa observação pertinente acerca do filme WALL-E da Pixar foi primeiramente percebida pelo meu amigo Décio, porém tomo aqui a liberdade de traçar o esboço do raciocínio, enquanto ele mesmo não escreve.
Assisti inúmeras vezes e principio minhas colocações por um elogio as idéias originais dos autores, ou pelo menos as que foram expostas pelo diretor nos comentários. Trata-se da idéia de um robô que ficou sozinho na Terra, e para que isso pudesse acontecer seria preciso que o planeta tivesse se tornado um ambiente inóspito, o que foi fácil de conseguir imaginando a poluição desmesurada que provavelmente aconteceria em uma sociedade de consumo.
Essa idéia, em nossa opinião, faz remissão ao pleno desenvolvimento do capitalismo de mercado e da sociedade de consumo, que provavelmente irá exaurir os recursos naturais do planeta. Outra remissão vem de outra idéia, nascida na Revolução Industrial, de que a mão de obra ficaria a cargo das máquinas, e que o homem, superado o trabalho, poderia se dedicar a outras atividades menos extenuantes. Porém, pode-se concluir que essa sociedade auxiliada por máquinas e adequada ao sistema de consumo, seria uma sociedade exclusivamente de consumidores, e como já foi observado, com o consumo elevado a poluição se eleva, e os recursos rareiam.
Passemos agora a Axion, a nave que as pessoas que puderam fazer seu cruzeiro usaram para escapar da destruição do Planeta. Aqui creio que fica subentendido o fato de que não caberia toda a população mundial em uma nave, e portanto o critério que seria utilizado para fazer o famigerado "cruzeiro de cinco anos" seria, mais uma vez, o econômico, dando a entender que quem não teve recursos pra comprar sua passagem, fatalmente morreu.
Uma vez dentro da nave, o sistema político adotado é praticamente um Socialismo de Estado, já que o "piloto automático" garante a divisão equalizada dos meios de produção da vida dentre seus tripulantes, e não se pode delimitar uma estratificação social. A crítica do filme é pungente quanto a alienação total dos tripulantes feita por meio do controle da tecnologia pelo Auto, que representa os interesses da BnL, o interesse na alienação fica respondido pelo protocolo direcionado aos pilotos automáticos que alerta das condições temerárias em que se encontra a Terra.
Em nossos primeiros contatos com as teorias políticas, à luz do questionamento recorrente da má divisão da sociedade e da desigualdade como um todo, sempre fomos levados a questionar se haveria uma solução para o problema de equilibrar direitos tão antinômicos como a Liberdade e a Igualdade. Uma resposta que valorize os dois direitos parece inatingível, como propõe Bobbio. A resposta mais convincente seria a da Social Democracia, porém sempre que um estado social democrata "divide" a riqueza entre seu Povo, pode-se pensar que há uma diminuição na exploração desse povo, porém, se é verdade que tal grupo de pessoas tem minorado suas mazelas causadas pela lógica do acúmulo de capital, fato também o é, que essa diminuição se trata na verdade de uma transferência do ônus para outros países. Essa é a força motriz da Globalização, porém a transferência da exploração de "mais-valia" é palco pra outra discussão.
No que tange a análise de WALL-E, vislumbramos a resposta pra questão da antinomia supracitada na simbiose entre Social Democracia (entendida como o estado remediando o capitalismo, haja vista que a superação do modelo está descartada) e os meios de manutenção da vida garantidos tecnologicamente propostos no filme. Pensamos que é possível em WALLEMANHA.
5 comentários:
Excelente comentário, mas o que mais me admira é a sua escrita: impecavelmente maravilhosa! ;)
Obrigado Fer.
Queria saber se os próprios autores pensaram com tanta minúcia sobre toda essa realidade que criaram dentro da nave.
Essas elucubrações são bem legais.
Já até mudei um pouco a minha opinião sobre algumas dessa coisas.
:)
A minha versão:
http://depramavel.blogspot.com/2009/09/wallemanha.html
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