Sexta-feira passada fui doar sangue, sim meus caros, a calhordagem está à solta por ai. No entanto, os hospitais são lugares que me deixam desconfortável, somos nós, a raça superior, em seus dias inglórios. Não bastasse o estupor que me dominava ao ser integrado à massa humana do transporte público, e partilhar da sina de um idoso de coluna em riste apoiado em seu manche manobrando e administrando os solavancos físicos (do trem), e mentais (da indiferença das “pessoas” aos assentos preferenciais), tive o ânimo recobrado pela possibilidade de assistir a uma aula na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a saber, da cátedra de Sociologia Jurídica, mais precisamente acerca do Cara: Karl Marx.
O assunto não era novo, mas de tudo que foi dito duas coisas me chamaram a atenção: A composição da Classe Improdutiva, e o Povo como Animal.
Comecemos pelo Povo (classe da qual não faço parte claro): nas sociedades modernas, o homem não é mais aquele ser que se realiza através de seu trabalho, pelo contrário cada vez mais o processo de produção industrial tende a alienar o homem do produto de seu trabalho desvinculando o mesmo do sentido de integração social como parte funcional importânte para o desenvolvimento pleno da sociedade. Com esse processo de não identificação, os trabalhadores tendem a canalizar seu tempo livre em prazeres primitivos como se alimentar, dormir e fazer sexo, o que lhe aproxima à vida de um animal, sem motivos pra ser diferente disso. Pois então, o homem quando obrigado a vender sua força de trabalho, considerada a única mercadoria capaz de produzir mais do que seu valor de custo (entende-se por valor a quantidade de trabalho aplicada à um determinado bem da vida), acaba por vender também sua racionalidade estreitando o limiar que o separa de sua condição animal.
Agora passemos à minha classe, a dos improdutivos: na lógica da estratificação social há aqueles que produzem os bens da vida necessários a nossa sobrevivência e a nossa satisfação material, são operários, agricultores, produtores em geral. Enfim, se são estes os que produzem, que são aqueles tantos outros como Médicos, Advogados e Professores por exemplo? Sim nós prestamos serviços mas não produzimos nada, somo improdutivos pois. (Deixo esse tema para uma análise posterior se vier a calhar).
No que tange a meu desencantamento do mundo, concluo que pra me despistar do trabalho dispus de um estratagema legal que me garante uma folga em troca do meu sangue (no sentido literal), e que nessa “nobre” desculpa pra evitar a alienante improdutividade que decorre da venda de minha força de trabalho animal, não pude me distanciar de meus instintos mais primitivos ao fazer um brinde à vida ao melhor estilo foda-se.
Boa semana.