9.2.11

Bebo para tornar as outras pessoas interessantes

Quem nunca tomou um porre? Se não o fez, deveria. Sou eu próprio testemunha e partidário, devoto defensor dos benefícios da inconsciência auto dosada. As maiores besteiras que eu já fiz tem por coadjuvante o álcool, se bem que há quem diga que o coadjuvante era eu. Pode ser ainda que essas desinteligências sejam fruto da união entre o álcool e meu organismo em uma simbiose etílica, e que, juntos completamos a figura de um grandioso inconsequente. Mas quem não gostaria de não mesurar consquências? De agir pelo próprio e único interesse? De transgredir e não ser punido?

O maior poder que o homem pode exercer sobre sua vida sempre foi o de errar sem ser punido. Errar no sentido de contrariar as regras impostas pela sociedade em prol de seus próprios interesses. Desde que o mundo é mundo, pessoas tentam (com sucesso) controlar outras pessoas, e criam com isso mecanismos de domínio audazes como as leis, de sutil perspicácia como a religião, de elevado intelecto como a moral.

Notem como é difícil retomar esse prazer primitivo de sobrepor-se aos demais com tantos instrumentos de controle social engendrados no que chamamos de consciência. Para que um transgressor, por assim dizer, obtenha êxito em sua tarefa de gozar do prazer da impunidade ele deve se livrar do temor que tem pelas leis, do temor de ser preso ou ser espoliado, despojado de seus bens; deve superar a idéia de pecado, ou pelo menos crer no poder conceitual do perdão; e deve driblar ainda toda uma determinação moral para que os conceitos de certo e errado lhe favoreçam.

Sendo assim, fazer merda de maneira consciente demanda um elevado grau de sociopatia, que, por sorte, não se perfaz na maioria da população. Por isso a bebida. A mágica que a embriaguez provoca é alterar estado de consciência, você pode ser um cidadão regular, ético, honesto, religioso e moralista até, e gozar da impunidade alegando que não teve consciência de seus atos. É Brilhante.

4 comentários:

Luana Harumi disse...

Já tomei um número considerável de porres, mas minhas maiores transgressões eu as fiz quando em meu estado normal de consciência_ que já é um tanto anormal. Não creio ter sinais de sociopatia, mas que falem por mim nesse ponto.
Enfim a bebida de fato alivia o fardo a ser carregado quando ocorre a transgressão, mas as pessoas, quando com essa desculpa como muleta, deveriam lembrar-se de que não fariam nada que não pensam em fazer em seu estado sóbrio.
E quanto ao título: é preferível estar de fato na companhia de pessoas interessantes, sendo a bebida apenas uma faísca para discussões mais barulhentas. Quando há apenas o barulho...

Obs.: acho que me lembro desse texto. É o começo daquele livro que havia começado?

leandro disse...

É o começo daquele livro, :)
Mas a questão suscitada foi exatamente o fato de poder fazer o que se quer e usar a bebida como desculpa pra se safar.
E o título (não de minha autoria) é uma brincadeira, parte da pretensão que estando sóbrio todas as pessoas são desinteressantes.

Luana Harumi disse...

Nós, pessoas do mundo, podemos fazer o que queremos.
Não creio que seja algo louvável usar a bebida como desculpa para o aparecimento de uma suposta nova pessoa que satisfaz suas vontades. Aliás acho covardia. Mas é apenas uma faceta do personagem do livro...

Bom, a maior parte das pessoas são desinteressantes. E não é pretensão; é constatação.

Henrique Veloso disse...

Gostei Bastante do Texto Leandro; E discordo de você Luana, 'Seria o monstro caso o médico estivesse consciente?' , a bebida revela sim uma nova pessoa, mesmo que temporária, as vezes muito menos desinteressante que a pessoa que outrora fora sóbria, mas realmente não serve como desculpa para enchergar um lado diferente ou como queira 'interessante' em qualquer coisa.

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